sábado, 13 de dezembro de 2008

ANINHA.

Entre quatro paredes.Imensas quatro paredes brancas encontra-se deitada uma mulher em uma cama de lençóis brancos e limpos, que ainda cheiram ao perfume suave do amaciante usado ontem. Encolhida como um feto. Os joelhos, a cabeça e os cotovelos se encontram em um ponto. O centro da cama. Sobre sua cabeça pesa uma grande pedra que a comprime entre o colchão e os lençóis. Seu corpo perde-se junto.Não há como distinguir seu corpo entre a camisola e os lençóis brancos.As únicas partes que se aliviam são as mãos.Mão de unhas vermelhas e roídas,que procuram alguma parte do corpo entre os panos brancos que ali se perdem e reencontram.As mãos encontram um vão, puxam com uma certa aflição e encontram seus cabelos.Os acariciam, e vão se deslizando encontrando as orelhas, percebem então ter chego ao nariz e a boca. Uma das mãos se perde entre o corpo e a outra continua a acariciar o rosto, tentando assim retirar a pedra sobre sua cabeça.
Um vento frio,como um sopro de alívio,passa entre os lençóis arrepiando sua pele, de uma forma que a acalma.Um feixe de luz entra pela porta, clareando seu rosto. Passa as mãos pelos olhos, os abre e começa se espreguiçar pelos braços,pernas, virando de um lado para o outro. Pára, olha para um ponto fixo do teto.Passa trinta segundo lembrando que HOJE É O SEU GRANDE DIA. De sua boca saem os números: Um, dois, três, quatro, cinco, seis.... Enquanto em sua mente ecoa a frase: Hoje é o seu grande dia, hoje é o seu grande dia a cada intervalo dos números contados.
Senta-se na cama, seus pés ainda mornos e descalços sentem o frio do azulejo. Levanta-se olhando para a caixa de sapato entre a cama e criado-mundo,segue até eles pegando a caixa e colocando-a em cima do criado-mudo. Ela se pergunta por que criando-mudo? Se todas as vezes que se olha no espelho do tal criado-mudo ele a repele de tanto que fala sobre ela. Passa o pente entre os cabelos pretos e grossos. Pelo espelho vê a porta que está entre aberta. Pega sua caixa de sapatos e caminha até a porta pegando na maçaneta. Com seu corpo meio que fora e dentro do quarto. Seu pé para fora, mas o resto do corpo para dentro. Vê a enorme praça que há do lado de lá, a neblina que cobre as enormes arvore-choronas e o chão ladrilhando. Sai de seu quarto e segue a atravessar a praça. Andando com os pés descalços sobre o ladrilho percebe entre eles uma pequena flor roxa. Olha para si e percebe que não está perfeitamente arrumada, sua camisola branca está tão crua, seu corpo se perdia diante a neblina. Pega a flor, põe sob sua orelha e entre um pouco de cabelo, e segue assim sua jornada. Ouvia som de risada e uma leve música circense. Crianças riam ali por perto. Corre ao encontro do som que vem de entre as arvores. Sorrindo corre, gira até ficar tonta e cai deitada sobre um mato escasso. Ali, passa alguns segundos ouvindo o som se afastar. Levanta olhando para o chão. Percebe os rastros das crianças junto a marcar de rodas de caminhonete dos palhaços. Eles voltaram para o ladrilho. Seguindo as marcas dos pequeninos pés volta ao ladrilho entre aquela neblina que começa a reduzir. Assim, ao longe, consegue ver o fim das crianças pulando, e a traseira da caminhonete enfeitada. Ouvem-se somente os sons da música e a risada das crianças. Apressa seus passos para chegar até eles. Cada vez mais rápido mais rápido. Quando se vê já está correndo e a música vai se apossando de seus ouvidos. Depara-se com um grande portão e um arco enorme envolvido por panos azuis e vermelhos. Encanta-se com a linda decoração que fizeram no cemitério da Vila. As crianças brincam entre as sepulturas que estão também enfeitadas por balões. O chão está todo cerrado por confetes que são jogados pelos palhaços sentados na traseira da caminhonete. Todos estão lá. Os Palhaços das Grandes pernas de pau, os sorridentes, os tristonhos e as crianças com seus balões coloridos. Quando percebe já está entre todos. Com as crianças brincando, entre as pernas de pau do palhaço que passa sobre ela, cantando as canções e seguindo junto as eles a caminhonete de Sr.Ademir, o palhaço que ela mais adorava.A caminhonete linda, toda pintada de azul e vermelho, está parando. Aos poucos vai-se descendo o caixão,ou caixonete como dizia seu Sr. Adermir: “...Os palhaços não se enterram em caixões, minha princesa, e sim em pequenas caixas eles se guardam. As caixonetes ...”E assim foi feito, via-se a caixonete de Sr. Ademir , colorida como ele queria, descendo da caminhonete em direção a terra. Todos ali reunidos envolvem-se ao redor da caixonete.Cada um põem um objeto junto de Sr.Adermir. É fechada a caixa. Aos pouco vai-se sumindo os palhaços, as crianças os balões.... Sobra-se somente Aninha, sentada em seu banco favorito da praça, olhando o luar e a sua caixa de sapato.

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